Você já saiu de um encontro com amigos e ficou remoendo tudo o que disse, achando que falou demais ou que não deveria ter compartilhado algo tão pessoal? Já sentiu que, por mais que tentasse se encaixar, sempre sobrava a sensação de que estava incomodando?

Esse sentimento de ser um “estorvo” nas relações é mais comum do que parece. Muitas pessoas carregam a crença profunda de que ocupam um espaço que não lhes pertence, de que são demais (ou de menos) para os outros. E, por trás disso, frequentemente há um Esquema Inadaptado em ação.

Quando o Cérebro Acredita que Você é um Incômodo: A Perspectiva da Terapia dos Esquemas

Na Psicoterapia dos Esquemas, desenvolvida por Jeffrey Young, esses padrões são chamados de Esquemas Iniciais Desadaptativos – estruturas emocionais e cognitivas formadas na infância que distorcem a forma como nos enxergamos e nos relacionamos.

Quem sente que “atrapalha” muitas vezes está sob a influência de esquemas como:

  • Privação Emocional (“Ninguém realmente se importa comigo”)

  • Defectividade/Vergonha (“Se me conhecerem de verdade, vão me rejeitar”)

  • Abandono (“As pessoas sempre vão acabar me deixando”)

Esses esquemas fazem com que a pessoa antecipe a rejeição e interprete situações ambíguas como confirmações de que é um peso. Um simples silêncio do outro vira prova de que “incomodou”, um olhar diferente vira “ninguém me quer por perto”.

De Onde Vem Isso?

Muitas vezes, a origem está em experiências precoces onde a pessoa internalizou que:

  • Suas necessidades eram um fardo (“Pare de chorar, você está me enchendo!”)

  • Seu valor dependia de servir aos outros (“Só gostamos de você quando faz o que pedimos”)

  • Expressar sentimentos era perigoso (“Você é dramático demais”)

Com o tempo, o cérebro aprende: “Ser eu mesmo = ser rejeitado”.

O Que Acontece No Cérebro? O Esquema Em Ação

Neurocientificamente, esses esquemas ativam redes de ameaça (amígdala) e autocrítica (córtex pré-frontal medial), criando um ciclo:

  • Antecipação: “Vou falar algo e vão me achar chato.”
  • Hipervigilância: Monitorar reações alheias (um suspiro, um olhar disperso).
  • Interpretação enviesada: Ler neutralidade como rejeição.
  • Autopunição: “É melhor eu me calar.”

Resultado? A pessoa vive em modo “economia de existência”, como se seu simples fato de ocupar espaço fosse um favor que os outros toleram.

Como a Terapia dos Esquemas Pode Ajudar?

  1. Identificar o Esquema: Nomear o padrão (“Ah, estou agindo como se fosse um incômodo de novo”) já reduz seu poder automático.

  2. Questionar as Evidências: “Realmente, meu amigo disse que eu atrapalhei, ou estou interpretando assim?”

  3. Modo de Criança Vulnerável vs. Modo Adulto Saudável: Validar a dor (“Faz sentido me sentir assim, dada minha história”), mas também confrontar com a realidade (“Hoje, eu posso escolher me relacionar com quem me valoriza”).

  4. Experimentos Comportamentais: Arriscar-se a se expressar em ambientes seguros e perceber que, muitas vezes, as pessoas não reagem como o esquema previa.

Para Refletir

Se você se identificou com esse texto, lembre-se: sentir que atrapalha não significa que você realmente atrapalha. Muitas vezes, é o eco de uma voz antiga, não a realidade do presente.

E, se for difícil acreditar nisso sozinho, talvez valha a pena explorar essas crenças em terapia. Porque você merece ocupar espaço – sem pedir desculpas por existir.

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